Por ocasião dos 25 anos da Aligrupo, a FPAS foi falar com o director do Agrupamento, Vítor Menino, que em entrevista à “Voz do Produtor” falou sobre o passado, o presente e o futuro da organização
FPAS: Como nasceu a Aligrupo?
VM: Foi há 25 anos que um grupo de empresários teve a visão comum de enfrentar os desafios da competitividade europeia, capacitando as suas empresas para, em conjunto, fazer crescer os seus negócios.
Recuando até 1993 a realidade da agricultura portuguesa, e particularmente da produção pecuária, era de um setor desorganizado, ineficiente e atrasado do ponto de vista técnico e tecnológico, o que nos tornava pouco competitivos em relação aos produtos agroalimentares que começaram a chegar ao país, livres de quaisquer taxas alfandegárias.
Por outro lado, o lóbi dos cereais tinha conseguido que o governo da época protegesse a produção nacional de cereais, através do pagamento de taxas à importação, provocando aos produtores de carne, custos de produção mais elevados que os existentes nos países com quem tínhamos de competir.
De um dia para o outro, deparamo-nos com custos de produção mais elevados, tecnologicamente mais atrasados e com uma estrutura organizacional altamente deficiente.
Para fazer face às novas e irreversíveis regras de mercado, era urgente organizar, unir, modernizar e adaptar.
E foi com base neste cenário que surgiu a Aligrupo. 28 suinicultores juntaram-se, a 3 de Fevereiro de 1994 para criar a Aligrupo – Agrupamento de produtores de suínos, Cooperativa de Responsabilidade Limitada.
FPAS: Pensa que as razões que estiveram na origem da constituição da Aligrupo ainda se mantêm?
VM: Se na génese esteve a necessidade, no crescimento tem estado a vontade. A vontade de crescimento dos agora 47 agrupados. A concentração da oferta tem permitido à Aligrupo, ao longo destes 25 anos, ganhar economia de escala e, consequentemente, ter maior capacidade de resposta aos mercados abastecedores.
Foi em 1996 que a Aligrupo deu um passo significativo no sentido de garantir aos seus associados maiores vantagens competitivas com a criação da AliRações – Rações para animais, verticalizando-se e reduzindo significativamente os custos de produção dos agrupados.
Seguiu-se, em 1999, a aquisição da SMUR – Sociedade de Multiplicação e Recria Animal, permitindo-nos ter controlo sobre a genética produzida, uniformizando o produto final e indo ao encontro das necessidades do mercado.
Mas a atuação da Aligrupo não se tem esgotado na optimização de recursos. Ao longo dos anos soubemos ir ao encontro das exigências dos consumidores, diferenciando os nossos produtos, como é o exemplo a adesão dos agrupados ao projecto Porco.PT, continuando a adaptar a produção às exigências do mercado, procurando continuamente melhores garantias e vantagens para os nossos associados.
Portanto, o que posso dizer é que a razão fundamental se mantém, sim. Ou seja, talvez não se mantenham as razões específicas daquela conjuntura, mas a razão fundamental, isto é, a necessidade de estarmos juntos para sermos mais fortes e, assim, podermos progredir é uma razão que se mantém e que, muito provavelmente vai intensificar-se.
FPAS: Em 25 anos o caminho nem sempre foi fácil. Como foi possível manter este grupo de pé?
VM: Nestes 25 anos de vida, por várias vezes tivemos de atravessar desertos que fizeram com que alguns de nós ficassem pelo caminho e, perante isso, tivemos que saber resistir e prosseguimos, apenas e só porque soubemos traçar rumos, definir políticas e estar unidos em torno de objetivos comuns.
Hoje na busca da redução dos custos e da otimização da produção associada, a Aligrupo fornece aos seus associados todo o tipo de bens e serviços necessários à produção. Desde medicamentos a combustíveis ou a transportes, bem como de todos os serviços técnicos necessários a uma produção mais eficiente.
Comercializamos 250.000 porcos por ano. 5.000 Porcos por semana.
As empresas que este grupo formou irão facturar, em 2019, mais de 50 milhões de euros e atingirão uma situação líquida a rondar os 7 milhões de euros.
FPAS: E no que respeita a Projetos de Futuro?
VM: Continuaremos a ser os grandes impulsionadores da marca de carne de porco portuguesa certificada O PORCO.PT e o “PORCO.PT PREMIUM, que diferenciarão a nossa produção.
Temos em curso uma candidatura com o apoio do PDR2020, que visa a modernização das explorações associadas, dando aos sócios a possibilidade de trabalhar com métodos informáticos mais avançados tecnologicamente, para além de outros serviços.
Implementaremos um programa de gestão das explorações, o PIG UP, que nos permitirá receber a informação dos sócios, através de tablet ou smartphone, informação essa, que será processada pelo servidor da Aligrupo e passada diretamente para o equipamento informático do produtor. A qualquer momento o produtor terá acesso por internet a todos os dados da sua exploração, colhendo, assim, grandes ganhos em termos de velocidade de decisão e eficiência.
A Aligrupo continuará a sua estratégia de procura do reforço da competitividade dos seus associados, adotando uma política rigorosa de custos, de forma a melhorar as performances técnico-económicas das explorações, tendo sempre em atenção os objetivos do bem-estar animal, do ambiente e da segurança alimentar.
Rentabilizar as estruturas associadas, otimizando os custos e adaptando a gestão às conjunturas económica, da fileira e nacional, são objetivos que este agrupamento continuará perseguindo.
FPAS: O que valoriza mais neste percurso da Aligrupo?
VM: O empenho e a solidariedade de todos têm-nos permitido alcançar os níveis de competitividade que perseguimos e de que necessitamos.
São 25 anos de história empresarial. A direção da Aligrupo, agradece a todos os que para tal contribuíram: colaboradores, cooperantes, clientes e fornecedores de bens e de serviços. Todos eles tornaram este Agrupamento de Produtores de Suínos, uma referência no contexto da Suinicultura Portuguesa.
Esta é resumidamente a nossa história, que valorizo muito. Os nossos princípios e os nossos propósitos e o que conseguimos através deles são, sem sombra de dúvida, parte da história da suinicultura portuguesa. A Aligrupo é o agrupamento português reconhecido com mais anos de existência na suinicultura Portuguesa. É com os mesmos princípios e valores que encaramos o futuro.
Vamos trabalhar para que daqui a mais 25 anos comemoremos as bodas de ouro da Aligrupo com cada vez mais força, vitalidade e união.
O facto de sermos reconhecidos pelo trabalho que fazemos também nos motiva a continuar. Sinto-me gratificado quando dizem à direcção deste agrupamento “só continuo a existir enquanto empresa porque existe a Aligrupo”. Este retorno, este feedback por parte dos associados diz-nos que estamos a fazer um bom trabalho, a salvar famílias e a manter postos de trabalho. Isto também é gratificante.
FPAS: E no seu próprio percurso? O que conquistou de que se orgulha? E o que são ainda desejos e objetivos por cumprir?
VM: Orgulho-me bastante de ter liderado uma equipa que nos fez chegar até aqui com estes resultados que acabámos de falar. E, já se sabe, que um empreendedor é sempre um empreendedor. Continuar a crescer. Solidificar as minhas empresas particulares e aquelas que lhes estão associadas são objectivos que me proponho concretizar.
FPAS: Há quem comente que “é um líder nato”. Na sua opinião que características deve ter um líder?
VM: Um líder tem que ser muitas coisas, mas diria que as principais características são a idoneidade, a persistência e a verticalidade nas opções e decisões. Quando digo verticalidade, refiro-me à clareza, empenho e segurança na tomada de decisões e na definição de rumos. Depois de o caminho estar definido, é persegui-lo e trabalhar. Saber motivar as equipas para que trabalhem não só muito, mas bem, é, também, uma característica que um líder tem que ter.
FPAS: E que características gosta de ver nas pessoas com quem trabalha? Ou seja, enquanto líder o que valoriza?
VM: Lealdade, frontalidade e espírito de equipa.
FPAS: Se tivesse que dar um conselho a um jovem empreendedor, na suinicultura ou fora dela, qual seria?
VM: Quase tudo se resume a persistência e objetividade. A um jovem empreendedor eu diria: tem uma visão, define um objectivo claro, trabalha, persegue o teu objectivo com persistência. Persegue o teu objectivo porque se o fizeres vais atingi-lo, vais obtê-lo.